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Luís Castro, do Botafogo, critica 'tritura' de técnicos no Brasil

Os treinadores vão embora dos clubes, mas igual aqui (no Brasil) não é normal - completou.



Luís Castro em treino do Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo




Perto de completar sete meses no comando do Botafogo, o técnico Luís Castro enfim vive um momento mais tranquilo no comando clube após acumular bons resultados no Brasileiro. No entanto, o treinador chegou a ter o trabalho pressionado quando o desempenho de sua equipe não era dos melhores.
Nesta sexta-feira, Castro foi o convidado do Seleção Sportv, e revelou surpresa com a pressão colocada sobre o trabalho dos técnicos no Brasil.
- A forma alucinada como o futebol brasileiro tritura treinadores é surpreendente. Eu acho que a troca constante dos treinadores retira o poder de liderança. Porque todos a sua volta sabem que se algo falhar, só vai haver um responsável. Então pode haver um conjunto de desresponsabilização à minha volta que fere de morte o desenvolvimento de qualquer clube. Porque o jogador, se falhar, sabe que o treinador vai embora, o departamento de saúde, se falhar, sabe que o treinador vai embora. Então o treinador vai embora deixando para trás aqueles que são realmente responsáveis por o clube não ganhar. Então essa retirada é fatal quer no Brasil quer no mundo.

Muitas vezes um novo colega chega e quando descobre o problema que o anterior sabia que existia, vai embora. Os treinadores vão embora dos clubes, mas igual aqui (no Brasil) não é normal - completou.

Castro também narrou o primeiro contato com o empresário John Textor, que, à época, ele nem sequer conhecia. A princípio, o treinador se mostrou receoso em assumir um projeto de reformulação, mas foi convencido por sua equipe de que a proposta tinha afinidades com sua maneira de enxergar o futebol.
- Eu compartilhava com minha equipe, e eles diziam "é nossa cara". Eu dizia que preferia jogar em um clube para títulos do que na reconstrução, é um risco grande, porque as pessoas estão esperando resultados muito grandes e podemos não ter. "Mas é a nossa cara porque podemos construir uma academia, uma metodologia de treino transversal, criar programas para desenvolver os mais jovens, pode reorganizar o futebol de baixo à cima. Mas eu dizia: "eu acho que não tem campo sequer para nós treinarmos". Mas esse é o desafio.

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E tinha campo para treino?
- Cheguei e disse para o nosso diretor. Adriano disse: "aqui é nosso campo". Eu disse: "qual campo?" - brincou - Eu vinha mal habituado. Vinha do Shaktar, tínhamos um centro de treinos com um gramado ótimo, também passando por Doha com gramados ótimos, com estádios que poderia fazer vários jogos e não se altera. Então me surpreendeu. "Então vamos ver outro espaço". Fomos à Aeronática. Então passava um estrada ao lado, com carros atrás e à frente, com helicópteros, com pássaros, eu não conseguiria conduzir o treino. Podemos treinar no Nilton, mas treinamos uma vez no Nilton e destruiu o Nilton. Então descobrimos o Lonier, mas estava muito abandonado. Só há três semanas os jogadores conseguiram um vestiário para todos juntos e é muito importante. Hoje temos um vestiário, os campos de treino estão bons. Muitas vezes, as pessoas acham que os resultados são importantes para se construir as coisas, mas as coisas são importantes para construir os resultados.
Técnicos brasileiros
- Somos todos treinadores e somos universais. O que eu achei: é um jogo muito pressionante, uma procura constante de redução de espaços e procurar rapidamente chegar à baliza do adversários. Temos o Diniz a promover um estilo diferente. Mas (em geral) é um jogo um pouco mais vertiginoso do que normalmente estava a acontecer (fora do Brasil). Temos que estar sempre equilibrados, porque um simples desequilíbrio momentâneo cria perigo. Essa forma rápida de chegar ao gol adversário é algo que caracteriza o futebol brasileiro.
Estrangeiros acham o futebol brasileiro lento?
- Eles que venham para cá e vão seguir. Eu também achava antes de ter o contato real. Há quatro ou cinco anos atrás a gente teve essa ideia. Acho que o futebol brasileiro mudou um pouco. Hoje tem um futebol mais virado para o gol com menor tempo. Eu não sou analista do futebol brasileiro há muito tempo, eu via jogos, mas não estudava. Mas eu tenho consciência hoje de que em comparação há quatro, cinco anos atrás, hoje o jogo é mais rápido, envolvente, que coloca mais jogadores no último terço dos adversários.
Adoção de sistema mais defensivo
- Aconteceu de baixarmos o bloco. Tivemos que encostar mais para trás e jogar com uma linha de cinco. É sobreviver. É um pouco prostituirmos nossa ideia. É algo que não nos trás alegria, é algo que somos obrigados a fazer. É a parte mais difícil, e não se vive só no Brasil ou no Botafogo.