Policial

Advogado ligado ao PCC tentou encobrir rastros de consultas a delegado com ajuda de membro da cúpula da Polícia Civil

Ele é tido como peça-chave nas investigações contra o núcleo denominado ‘Sintonia dos Gravatas’






Peça-chave nas investigações do núcleo do PCC (Primeiro Comando da Capital) denominado Sintonia dos Gravatas, advogado de Campo Grande teria tentado se livrar de buscas indevidas que fez no sistema da sistema da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul). Para isso, teria contatado até o delegado-geral da época, na tentativa de encobrir os rastros das buscas.

O advogado, que relata ser sobrinho de delegado em trecho de conversa que consta nos autos da denúncia feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), teria acionado o então delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul. Após buscar pelo nome de um delegado, ele pediu ao chefe da instituição para ‘passar pano’.

A conversa teria acontecido por meio de terceiro, em que o advogado cita “Sobrinho de um delegado queria falar com você a respeito de um problema aí. Ele utilizou uma senha”. No entanto, o delegado-geral da época, em 2021, teria dito “Não posso nem deixar isso chegar em mim. Não vou poder passar pano porque essa m*** vai vazar”.

Pesquisou nome de delegado

Em julho de 2021, o advogado foi ouvido no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Assaltos e Sequestros) por delegados da força-tarefa. Na ocasião, o celular foi apreendido e depois periciado. A investigação que já corria pela delegacia e também pelo Gaeco acabou resultando na Operação Courrier.

Conforme dados da denúncia, a consulta ao nome do delegado aconteceu na noite do dia 2 de julho de 2021, após a autoridade policial citar nomes da alta cúpula da Polícia Civil em audiência, no dia 30 de junho, quando deu detalhes da sua retirada das investigações de homicídios investigados pela força-tarefa da Omertà. Já no dia 2 e na madrugada do dia 3 de julho, o nome do delegado foi pesquisado por três vezes.

A consulta acabou sendo descoberta. Ela foi feita pelo advogado — que tinha uma senha fornecida por um ex-chefe de cartório — preso preventivamente na operação. Nas conversas interceptadas no celular do advogado, há trechos em que o servidor e o advogado tentam combinar depoimento, sobre como o advogado teria conseguido a senha.

Quando o advogado deu declarações para o delegado, que teve o nome procurado no sistema da Sejusp, passou a entregar todos os nomes de advogados ligados à facção criminosa e que prestavam serviço ao PCC no Estado.

Advogados denunciados

Na última sexta-feira (8), o Gaeco ofereceu denúncia contra 8 pessoas por envolvimento no núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’, do PCC. Entre os denunciados estão presos de Mato Grosso do Sul e de outros estados, foragidos, um servidor público e também advogados, que tinham a função de ‘pombo-correio’ e ‘eram muito bem pagos para isso’, de acordo com relatos de integrantes da organização criminosa.

Conforme o Gaeco, a apuração inicial foi deflagrada para investigar a conduta de pessoas que integram ou se integraram em facções criminosas e demais delitos praticados por elas. Nos relatórios, consta que a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) levou ao conhecimento a do órgão a existência de planos de atentados contra agentes públicos.

Um dos relatórios, com a data de 6 de abril de 2021, é dito que em uma das celas da Gameleira foi apreendido um bilhete contendo uma ordem para que integrantes da organização criminosa assassinem dois juízes que atuam em Minas Gerais, além de uma promotora.

Os advogados que compõem o núcleo da facção criminosa seriam responsáveis por repassarem os recados de dentro para fora dos presídios. Os ‘encontros’ entre advogados e presos não são filmados ou gravados, possibilitando o repasse de ameaças e ‘salves’ da facção.