Relatório da ONU alerta para aumento de extremismo durante pandemia
Entre países ameaçados estão Afeganistão, Síria, Iraque e Moçambique
RTP - Nova York
Um painel de peritos da Organização das Nações Unidas (ONU) considera que a pandemia do novo coronavírus fez aumentar a ameaça de grupos extremistas, como Estado Islâmico e Al Qaeda, em zonas de conflito, incluindo o Afeganistão, a Síria, o Iraque e Moçambique.
Num relatório para o Conselho de Segurança
da ONU, divulgado na madrugada desta sexta-feira (5) em Lisboa, o painel
afirmou que a ameaça extremista continuou a aumentar nas zonas de
conflito na última metade de 2020, porque "a pandemia inibiu as forças
da lei e da ordem mais do que os terroristas", que conseguem mover-se
livremente, apesar das restrições impostas para combater a covid-19.
Segundo o painel, alguns Estados-membros da ONU, não nomeados,
consideraram que, à medida que as restrições impostas para combater a
pandemia vão sendo suspensas em vários locais, "pode ocorrer uma erupção
de ataques pré-planejados".
"O custo econômico e político da pandemia, o agravamento dos fatores
subjacentes ao extremismo violento e o impacto esperado nos esforços
antiterrorismo são suscetíveis de aumentar a ameaça a longo prazo",
alertaram os peritos. O Iraque e a Síria continuam a ser "a área
central" para o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), enquanto a Região
Noroeste da Síria, onde a Al-Qaeda tem grupos afiliados, é "uma fonte de
preocupação".
De acordo com os peritos, o Afeganistão continua a ser "o país "mais afetado pelo terrorismo no mundo".
Apesar do acordo entre os Estados Unidos e os Talibã, em 29 de fevereiro
do ano passado, e do início de conversações entre eles e o governo
afegão, em setembro, a situação no país "continua a ser um desafio",
segundo o relatório.
Mais de 600 civis afegãos e 2.500 membros das forças de segurança no
país foram mortos em ataques desde 29 de fevereiro de 2020, segundo o
painel, acrescentando que "as atividades terroristas e a ideologia
radical continuam a ser uma fonte potencial de ameaças para a região e
em nível global".
No Iraque e na Síria, conforme os peritos, não há indicação de que o EI
possa reconstituir o seu autodeclarado "califado", derrotado em 2017, e
que chegou a abranger um terço tanto do Iraque quanto da Síria, mas o
grupo extremista "irá certamente explorar a sua capacidade de permanecer
numa região caracterizada por perspectivas limitadas de estabilização e
reconstrução".
O relatório estima que 10 mil combatentes do EI permaneçam ativos no
Iraque e na Síria. Os peritos destacaram ainda que os grupos extremistas
fizeram progressos na África, na região de Cabo Delgado, em Moçambique,
"entre as áreas mais preocupantes".
Em Cabo Delgado, membros do Estado Islâmico tomaram cidades e aldeias e
continuam a manter o Porto de Mocímboa da Praia, apesar de uma ofensiva
governamental sustentada, diz o levantamento.
Na Europa, ataques na Áustria, França, Alemanha e Suíça, entre setembro e novembro do ano passado, mostraram a ameaça permanente de terrorismo, apontou o painel.
Detenção de líder da Al Qaeda
O levantamento mostra ainda que o líder da
organização extremista Al Qaeda na Península Arábica (AQPA), Khalid
Batarfi, foi detido em outubro no Iêmen. O levantamento diz que Batarfi,
que assumiu a liderança há um ano, "foi detido em outubro durante uma
operação em Gheida, que também resultou na morte do vice-comandante,
Saad Atef el-Aoulaqi".
O documento não especifica por quem Batarfi foi capturado, nem o que lhe
aconteceu desde então. No entanto, esta é a primeira confirmação
oficial da detenção.
"Além das perdas no seu comando, a AQPA está sendo corroída por
desentendimentos e deserções, principalmente por um dos antigos tenentes
de Batarfi", diz o relatório da ONU, que alerta, contudo, para a
"ameaça constante" que esse grupo extremista bem estabelecido no Iêmen
continua a representar.