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Ações contra corrupção podem ajudar combate a Covid-19, pobreza e crise climática, diz painel da ONU

Relatório recomenta o financiamento do desenvolvimento sustentável por meio do combate à lavagem de dinheiro, corrupção e abuso fiscal.



Moradores de um bairro pobre de Santiago do Chile protestam para receber alimentos durante quarentena geral em meio à pandemia, em maio do ano passado — Foto: Ivan Alvarado/Reuters




Acabar com a corrupção e recuperar o dinheiro perdido pode levar governos do mundo todo a financiarem mais ações contra a pobreza extrema, o coronavírus e a crise climática, recomenda relatório do Painel de Alto Nível sobre Responsabilidade, Transparência e Integridade Financeiras Internacionais para Alcançar a Agenda 2030 (Painel FACTI) da ONU, lançado nesta quinta-feira (25).

Até 2,7% do PIB mundial está em operações de lavagem de dinheiro, o que faz com que os governos deixem de arrecadar até US$ 600 bilhões por ano, de acordo com o painel.

 

“Um sistema financeiro corrupto e falido rouba dos pobres e priva o mundo inteiro dos recursos necessários para erradicar a pobreza, se recuperar da Covid-19 e encontrar soluções para a crise climática”, explica Dalia Grybauskaitė, copresidente do FACTI e ex-presidente da Lituânia.

 

Segundo o relatório, é preciso leis e instituições mais sólidas para prevenir esses problemas. Para isso, o FACTI pede aos governos que concordem com o Pacto Global de Integridade Financeira para o Desenvolvimento Sustentável.

Fila de moradores para retirada de doação de alimentos em Paris — Foto: Associated Press

Fila de moradores para retirada de doação de alimentos em Paris — Foto: Associated Press

 

O relatório da ONU diz que um décimo da riqueza do mundo pode estar escondido em ativos financeiros offshore (no exterior), impedindo os governos de coletarem sua parte justa de impostos.

Confira algumas recomendações do Painel FACTI para os governos:

 

  • Transparência sobre a titularidade das empresas, o gasto público, e as medidas de emergência tomadas para controlar a Covid-19, tornando essas informações públicas;
  • Pagamento justo de impostos, com normas tributárias internacionais e tributação de gigantes digitais;
  • Cooperação internacional mais sólida para processar os atos de corrupção e compartilhar informações entre os países;
  • Coleta e divulgação de dados detalhados sobre tributação, cooperação tributária, assistência jurídica mútua e esforços de recuperação de ativos.

 

“Acabar com as brechas que permitem a lavagem de dinheiro, a corrupção e o abuso fiscal, além de acabar com as irregularidades de banqueiros, contadores e advogados, são alguns dos passos necessários para transformar a economia mundial para o bem universal”, diz Ibrahim Mayaki, copresidente do FACTI e ex-primeiro-ministro do Níger.

Ativistas se reúnem para um protesto contra as mudanças climáticas na geleira Trient, na Suíça, em 2020 — Foto: Reuters/Denis Balibouse

Ativistas se reúnem para um protesto contra as mudanças climáticas na geleira Trient, na Suíça, em 2020 — Foto: Reuters/Denis Balibouse

O Painel FACTI é formado por ex-chefes de governos e de bancos centrais, acadêmicos e líderes empresariais e da sociedade civil.

Para eles, recuperar o prejuízo anual por elisão e evasão fiscais permitiria ações como a expansão da rede de seguridade social de Bangladesh a 9 milhões de idosos, a construção de 38 mil salas de aula no Chade e a instalação de 8 mil turbinas eólicas na Alemanha.